sábado, 31 de julho de 2010

Escultura I - Transformações a partir de fotografias

Este projeto foi desenvolvido pela arte-educadora Ligia Coelho com a minha participação. A intenção era trabalhar a elaboração de objetos tridimensionais com uma turma de 9° ano. O tema de pesquisa da série escolhido por todos os professores era estudar a formação das cidades, os processos de de urbanização. Organizamos um passeio fotográfico pelo centro de São Paulo e a partir das fotos feitas pelos alunos propusemos maneiras de transformar as imagens bidimensionais em tridimensionais. A proposta consistiu em recortar elementos de algumas fotos selecionadas em grupos para depois ampliá-las com outros materiais. Alguns alunos realizaram recortes em madeira e outros ampliaram os recortes em tela de galinheiro empapelada com jornal, procurando o escultórico "enrrolando" e moldando as formas bidimensionais em objetos de grande formato.

Escultura I - As fotos e seus elementos

Escultura I - trabalho final




quinta-feira, 22 de julho de 2010

COLAGEM II

Colagem é um assunto muito vasto, talvez a proposta que vou apresentar agora se encaixe melhor no conceito de construção, mas como trabalhamos com a adição de partes, vamos prosseguir pelo viés da colagem.
Essa proposta foi desenvolvida em parceria com o artista educador Luciano Bortoletto com alunos do 9º ano.
Nosso objetivo inicial era enfatizar a construção dos planos na formação da imagem pictórica, no contexto de um processo mais longo calcado na observação e no desenvolvimento de um posicionamento crítico e estético com relação à cidade, que chamamos de “Construção do Olhar”.
O trabalho partia da observação de postais e fotos da cidade de São Paulo, na primeira etapa os alunos selecionavam alguns aspectos das fotos e produziam desenhos no formato de postal, para evidenciar que o objetivo não era a reprodução de imagens escolhemos como material o giz pastel, pela natureza dos meios já ficava evidente os limites, deixando os alunos livres para a exploração das possibilidades.
No segundo momento partindo já dos desenhos, e aí compartilhando os resultados em grupo, os alunos decidiam a composição selecionando os planos, que iam um a um sendo recortados em placas de papelão, recebendo a cor depois de colados. Nessa operação, os estudantes foram desenvolvendo um pensamento visual de síntese, no qual forma e conteúdo atingiram, ao nosso ver, um alto teor de sofisticação.

COLAGEM II - Primeira etapa: observação






 

COLAGEM II - Primeira etapa: observação




COLAGEM II



COLAGEM II




terça-feira, 20 de julho de 2010

COLAGEM I

Visitando a exposição “Uma semana de bondade” do artista Max Ernst,um trabalho magnífico de colagem em que o artista utiliza imagens de folhetins, jornais e romances populares, interferindo, fragmentando, criando novos sentidos com uma crítica acirrada e irônica sobre os valores da época, veio à tona uma experiência anterior.
Foi uma proposta de colagem que desenvolvi com alunos de 1º série do Ensino Médio.

Num desdobramento do estudo da obra de Goya, queria que os alunos enfrentassem uma temática mais dramática, ao mesmo tempo em que explorassem a linguagem gráfica do preto e branco – mais tarde iríamos trabalhar com gravura.

As imagens xerocadas de obras do artista deveriam funcionar como referência e estímulo para novos desenhos, mas também como ponto de partida para se repensar a realidade atual possibilitando o exercício crítico.
O uso das imagens ou de parte delas passou a ser mais um recurso a ser utilizado, mas com outros significados, quando passam a fazer parte da construção dos discursos expressivos dos alunos.

A proposta foi desenvolvida em três etapas:
a) Apropriação, desconstrução e interferência de imagem, construindo novos significados; materiais: cópias de imagens da obra de Goya, papéis branco, preto e transparente, tinta nanquim preto, acrílico branco.
b) Escolha de um pequeno fragmento de gravura da série “Os Caprichos” para ser o ponto de partida de uma nova obra, na qual o fragmento passa a ter uma nova função. Exploração da linha e da aguada – tinta diluída.
c) Desenho explorando os recursos gráficos da linha, sombreado, meio tom, etc. buscando uma continuidade temática às etapas anteriores.

COLAGEM I - Trabalhos




COLAGEM I - Trabalhos



COLAGEM I - Trabalhos



domingo, 18 de julho de 2010

Jogos de desenhar II

Aí vai mais um jogo de desenhar que tenho levado para uma turma de 2° ano. A proposta consiste em imaginar tudo o que poderia sair de dentro de um buraco no meio do desenho. Se olharmos dentro deste buraco o que veremos? Algo assustador? Um esconderijo? O que tem lá dentro? O que um desenho pode esconder? Também podemos simplesmente ir desenhando e entrar com o desenho neste buraco. Como será que vamos desenhar lá dentro? Ou do outro lado do papel, ou em outro papel por baixo? Um menino "viajou" na idéia de algo assustador saindo do seu desenho: a sua própria mão, só que agora ela também fazia parte do desenho! Na foto abaixo sai um personagem de dentro do buraco.



sexta-feira, 16 de julho de 2010

Jogos de desenhar I

Há algum tempo venho tentando propor trabalhos de desenho para as séries iniciais do E. Fundamental que levem as crianças a sair de estereótipos, para que desenhem com mais imaginação. Mostrar desenhos de artistas para crianças e conversar sobre eles, na minha experiência, nem sempre é um fator de motivação. Por mais que doa a alguns professores, os desenhos animados da TV, das histórias em quadrinhos, dos personagens dos vídeo-games são MUITO mais interessantes como modelos para a faixa etária, por que alimentam um jogo, tocam no seu imaginário. As ilustrações das histórias infantis costumam sensibilizar mais que as reproduções de desenhos da chamada arte culta, que apesar disso, continuo trazendo para a sala de aula como este que vai aí abaixo. Mas observando a maneira como em situações de desenho as crianças criam histórias, estou sempre procurando elementos para alimentar estas narrativas. Encontrei há alguns anos um trabalho acadêmico que falava sobre os cadavres-exquis, os jogos de automatismo de artistas surrealistas como Marx Ernst, (há neste momento uma bela exposição no MASP de colagens deste artista) Joan Miró, Man Ray, Yves Tanguy, Tristan Tzara, entre outros.

Cadavre Exquis, 1926-27 - Man Ray, Yves Tanguy, Joan Miró, Max Morise Tinta e lápis colorido sobre papel, 37x23cm - The Museum of Modern Art, New York.

O jogo consiste em dobrar uma folha de papel tantas vezes quanto o número de participantes e, cada um a sua vez e sem que os outros vejam, fazer um desenho e exibir para o jogador seguinte apenas algumas marcas para que a partir dali ele continue o desenho. O resultado é sempre surpreendente, mas um pouco complexo para crianças desta faixa etária do E. Fundamental. Mas entendi que propor jogos de desenho poderia ser muito interessante para entrar na imaginação lúdica do desenho infantil. Vou mostrar de quando em vez, alguns destes jogos, uns que inventei e outros que aprendi com diversos arte-educadores, outros ainda retirei do livro Fazer e Pensar Arte da Anna Marie Holm.
O primeiro que vai aí abaixo é a conversa de dois desenhos. Proponho as crianças que em duplas façam um desenho que “converse” com o desenho do amigo. Vale escolher o tema, criar linhas que vão de um desenho ao outro, ou histórias que continuam no desenho do colega ou outra solução qualquer que façam os desenhos conversarem entre si. Via de regra acabava virando um trabalho conjunto, com ambos os participantes desenhando nos dois suportes. A proposta é simples e pode parecer que se trata apenas de desenhar em dupla. Propor que os desenhos conversem trás um desafio de interação e uma maior atenção para o que o outro realiza estimulando a que se mergulhe na história.
Para quem quiser aprofundar sobre os cadavre-exquis pode procurar o texto da Fabiane Pianowski em arquivo 'cached' do google porque o original foi removido.
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:N-pFK6NtmdYJ:www.psikeba.com.ar/articulos/FP_surrealismo_cadaver_exquisito.htm+Fabiane+Pianowski+cadavre+exquis&cd=1&hl=en&ct=clnk

Arte na escola

SOBRE EDUCAR, ENSINAR E APRENDER ARTE

No momento em que é publicada uma alteração da LDB tornando obrigatório o ensino de arte na educação básica no Brasil, sinto-me compelido a tocar num problema que já há algum tempo circula entre arte-educadores com quem converso.

O ensino de arte na maioria das escolas pelo que tenho observado, tanto nos cursos de formação continuada de professores ou no relato das práticas dos estudantes de pedagogia que já atuam na educação básica com quem mantenho contato, tem oscilado entre dois pólos: ou adota-se as concepções chamadas idealistas, da livre expressão às suas extensões tecnicistas, ou adota-se a tendência mais recente de valorização da cultura chic, todas elas centradas na figura do professor, sem que se valorize o aspecto relacional entre adultos e jovens e que leve em consideração, nesta relação, as dimensões subjetivas e a experiência cultural vivida tanto dos estudantes como dos professores de arte.

As concepções de arte na educação de que falamos, genericamente, produziram práticas que alojam uma dicotomia entre o educar e o ensinar, entre o ensinar e o aprender, abrigando fissuras, muitas vezes abismos, entre a expressão artística pessoal, o estudo de referências culturais e o estudo das linguagens. Ainda vemos em sala de aula de muitas escolas, no trabalho com artes visuais práticas que fazem uso mecânico da cópia, sem que se saiba o quê e para quê está se copiando; a livre expressão sem que haja a interlocução professor-estudante no processo de trabalho; e a pesquisa sobre elementos da cultura visual, sem que minimamente se leve em consideração a identificação individual do estudante com os conteúdos visuais pesquisados para não dizer dos fatos da própria experiência pessoal. O triângulo está fendido, três pontos de apoio sem conexão.

Até as nomenclaturas que conceituam as diferentes abordagens de arte na educação, traduzem os diversos compartimentos que pouco se comunicam e, por vezes, se antagonizam: Educação através da arte, Arte-educação, Ensino de arte, Cultura visual. Opto por não tentar definir cada uma dessas concepções, tarefa para historiadores da educação, mas tentar refletir sobre os conceitos mais gerais de educação e ensino no âmbito da arte, justamente para pensar as suas inter-relações e implicações para o adulto professor e o jovem.

Com estas observações até aqui fico a imaginar por que em muitas salas de aula os adultos não estão reconhecendo o papel de sua geração em relação às novas que vem chegando. Há mais de dez anos, os Parâmetros Curriculares Nacionais já apontavam o grande descompasso entre o conhecimento disponível sobre a criação artística da criança e do adolescente, sobre o ensino em Artes Visuais e o que realmente se pratica nas escolas. O ensino das artes visuais é o que historicamente está há mais tempo nos currículos oficiais (mais que todas as outras linguagens da arte)e, apesar disso, não temos sido capazes de praticá-lo ultrapassando velhas idéias e concepções arcaicas.

Um dos tópicos que pode ser levado em consideração para estas reflexões, está na própria natureza da arte e na forma como ela é compreendida na escola. Embora a arte seja algo de difícil definição, por que seu significado varia em função das características de diferentes épocas e grupos sociais, ela esta localizada no espaço de intersecção entre o indivíduo e o grupo, entre o que é particular e que é comum: a arte engloba e articula de maneira complexa o aspecto subjetivo e o cultural. O problema é que, quando a arte torna-se uma disciplina escolar, a cisão entre estas duas dimensões fica evidente, refletindo, de resto, a dicotomia da sociedade contemporânea entre corpo e mente, razão e sensibilidade, educação e cultura. Educar a sensibilidade, ensinar a cultura e dar voz ao cidadão são faces que se completam.

Urge renovar para não reproduzir. O termo renovar que tem tanto o sentido de fazer novamente como de fazer diferente, usado aqui como a possibilidade dada ao estudante de construir os significados para a sua experiência a partir do conhecimento acumulado pelas gerações anteriores fazendo-se outro. Ainda que isso não signifique transformar a sociedade ou reformar a humanidade, importa como exercício do seu direito de fazer escolhas dentro dos limites da sua própria vida. Esta tarefa exigirá, no entanto, coragem do jovem e generosidade do adulto.

SOBRE CORAGEM E GENEROSIDADE

Há uma sequência cinematográfica, parte da obra Andrei Rublev do cineasta russo Andrei Tarkovski, que já foi objeto de diversas interpretações nas discussões sobre o significado da arte , mas interessa-me aqui como metáfora para me ajudar a refletir. Segue a história:

Numa terra arrasada pela guerra, na Rússia do século XV, um jovem é convidado pelo senhor do reino a realizar a fundição de um sino, pois era este o ofício de seu pai que então jazia morto pela peste. O jovem dizendo saber todos os segredos da fundição, aceita a empreitada cujo risco, no caso de fracasso e não fazer soar a enorme peça, é pagar com a sua própria vida.

Um estado de tensão se apossa do jovem deixando-nos a dúvida se o que estamos assistindo é ousadia ou loucura. A tarefa é árdua para o jovem, que sofre em todas as etapas do processo: encontrar o barro adequado para o molde, juntar o metal necessário, modelar o sino, fundir o metal e preencher o molde. Em todas estas passagens é observado pelo personagem-título da obra, um monge e pintor em crise com o seu processo criativo. Ao final da sequência, em meio ao regozijo do povo pelas badaladas, o nosso personagem sucumbe à tensão e cai em prantos. Amparado por Rublev, Boriska, o filho do sineiro, diz assim: “Meu pai, nunca passou-me o segredo. Morreu sem me contar, levou-o para a cova, aquele patife tratante.”

Esta é uma imagem de coragem: construir por si mesmo o próprio percurso e descobrir os segredos do caminho é coisa que uma pessoa só pode realizar por si mesma. O pai do personagem não contou a ele o segredo por que este só pode ser descoberto no caminho. O que Boriska havia aprendido o foi no convívio com o labor de seu pai, mas resignificado no seu próprio trajeto. Trilhar o caminho era o segredo.

Entretanto é importante observar que a coragem do adolescente prescinde da educação para existir, ou acaso não necessitará de coragem aquele que se envolve na delinqüência? Os recentes índices de morte por assassinato de adolescentes no Brasil atestam a dramática falta de alternativas para os atos de coragem. Por outro lado, “a experiência de vida” do adulto, transformada em ímpeto pedagógico, só levará ao conformismo, estéril de novas possibilidades de vida, pois “o indivíduo insensível à experiência é carente de sentido e imaginação” como nos diz Walter Benjamin.

Para que a educação e o ensino sejam felizes em alguma medida, será necessário aos adultos abrir espaços para que as novas gerações exercitem a sua própria fala e façam suas próprias escolhas, exercendo este adulto uma pedagogia que possibilite o desenvolvimento da sensibilidade e a construção de conhecimentos. Unir algo que se aprende mas não se ensina com algo que se ensina mas não se escolhe pelo outro. A coragem do jovem tem muita a lucrar com a generosidade do adulto.

São Paulo, 14 de julho de 2010, na data de publicação da Lei Nº 12.287/2010
Paulo Nin Ferreira




Boriska, o filho do sineiro em "Andrei Rublev", filme de Andrei Tarkovski, URSS, 1966.


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"O jovem vivenciará o espírito, e quanto mais difícil lhe seja conquistar algo grandioso, mais facilmente encontrará o espírito em sua caminhada e em todos os homens."
Walter Benjamin

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Infância e Arte

Alguns artistas contemporâneos percebem que há na etapa inicial da vida uma compreensão sensível do mundo que criam os caminhos para os significados mais profundos da sua existência e que de alguma forma é reafirmado na sua arte. Há um momento antes da palavra (a palavra infância vem do verbo latim fare no particípio passado: fans. In-fans = sem fala), que abriga uma percepção aguda das coisas que muitos adultos já deixaram no esquecimento, e por isso simplesmente não são capazes de perceber o que vai pela cabeça das crianças. Acho isso importante para se pensar que o ensino de arte para a infância fica empobrecido se não levar em conta esta maneira de estar no mundo, experimentando materiais, olhando as coisas de uma maneira particular. E aí o que vemos são as chamadas "releituras", a cópia, o treino motor.

Selecionei aí abaixo três textos de artistas brasileiros que falam deste universo esquecido.

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“Remexo com um pedacinho de arame nas
minhas memórias fósseis.
Tem por lá um menino a brincar no terreiro:
entre conchas, osso de arara, pedaços de pote,
sabugos, asas de caçarolas etc.
E tem um carrinho de bruços no meio do
terreiro.
O menino cangava dois sapos e os botava a
puxar o carrinho.
Faz de conta que ele carregava areia e pedras
no seu caminhão.
O menino também puxava, nos becos da sua
aldeia, por um barbante sujo umas latas tristes.
Era sempre um barbante sujo.
Eram sempre umas latas tristes.
O menino é hoje um homem douto que trata
com física quântica.
Mas tem nostalgia das latas.
Tem saudades de puxar por um barbante sujo
umas latas tristes.
Aos parentes que ficaram na aldeia esse homem
douto encomendou uma árvore torta —
Para caber nos seus passarinhos.


De tarde os passarinhos fazem árvore nele.”


Manoel de Barros

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“Mas talvez não importe tanto fabular sobre a origem da linguagem quanto compreender a enorme cisão que ela causou. Pois uma vez amarrada esta corda entre todos, uma vez expulsos ou mortos aqueles que não quiseram valer-se dela, não há mais qualquer possibilidade de retorno, pois é próprio da mais estranha das ferramentas, da mais exótica das invenções (a linguagem), parecer tão natural e verdadeira quanto uma rocha, um cajado ou uma cusparada. Este é seu verdadeiro fundamento, sua digamos, astúcia — a de substituir-se ao real como um vírus à célula sadia. Há aí uma potência de esquecimento que não pode ser diminuída, uma armadilha na agonia que serviu a alguns (e não a todos), sacrificando violentamente àqueles que não a utilizaram.
Restam hoje apenas algumas pistas desta origem ou, para dizer de outro modo, alguns sinais fora da linguagem. Parece uma experiência cotidiana, ainda acessível a todos, estranhar subitamente o som de determinada palavra como demasiado abstrato ou verossímil em relação àquilo que designa, e o velho jogo infantil de repetir indefinidamente um mesmo vocábulo até que perca completamente qualquer ligação com aquilo que procura indicar talvez queira nos conduzir, apenas, de volta a uma época em que cada coisa tinha seu peso sinestésico, e tanto a cor como o sabor como a imagem eram o índice livre para aquele pássaro flechado. A própria diversidade de línguas, absolutamente cômica pra quem as escuta sem entender, remete também à arbitrariedade de origem, a esta reunião primeva de feridos em busca de consolo e proteção que expulsou para longe, ou mesmo matou, os primeiros heróis mudos. Quando entramos em choque com algo inaceitável ou excessivamente belo e ficamos, literalmente, sem palavras, estamos recuperando esta etapa adormecida da nossa natureza.”


Nuno Ramos

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"Sou da família dos batráquios: através da barriga, vísceras e mãos, me veio toda a percepção sobre o mundo. Não tenho memória, minhas lembranças são sempre relacionadas com percepções passadas apreendidas pelo sensorial. Num lapso de segundo eu me sinto tomada pela quentura da mamadeira na palma da mão acompanhada pelo gosto do leite morno que desce devagar, deixando um rastro de bolhas atrás de si. Experiência esta, talvez a mais remota dentro da minha vivência, inscrita no meu passado, que se faz presente ainda hoje.
Havia uma tal incorporação e coesão neste instante que hoje só é comparável a esta sensação, me vem outro instante em que, me sentindo inteira, coesa, unida, me sinto como se estivesse de mãos dadas comigo mesma."


Lygia Clark

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Uma vivência mais experimental

Arte na 1ª série do EM
Não bastava apenas a abordagem genérica dos termos convencionalmente utilizados pela história da arte. Então buscamos um elenco de questões a arte colocadas pelas vanguardas, e readaptamos à nossa realidade. Forjamos com os elementos do nosso cotidiano, os materiais que temos à mão, e inflexões possíveis com simples manipulação de materialidades do uso comum, um ambiente propício a experiências reais, muito mais próximo da arte do que da releitura, da cópia ou da imitação.
Fundamentamos as propostas aqui representadas no Dadaísmo, Construtivismo e Expressionismo Abstrato, colocando para os alunos questões abertas, indicando em alguns casos o material, em outros algum procedimento inicial, o ponto de partida, deixando que todas as decisões a cerca do processo pessoal de criação coubessem inteiramente aos estudantes.  


domingo, 11 de julho de 2010

Construindo uma casinha:

Uma das propostas que as crianças gostam muito e pedem para fazer e refazer é o trabalho de construção com sucata, sobretudo a sucata de brinquedos velhos e quebrados, as "prendas" das festinhas de aniversário, os brinquedinhos de kinder-ovo desmembrados, as tranqueiras de fundo de gaveta. Uma turma de 5ºano num desses momentos resolveu fazer uma casa, a famosa brincadeira de casinha, com os papéis de pai, mãe, filha, filho etc. O interessante é que este tipo de brincadeira costuma reunir meninos e meninas que ficam muito tempo e, se deixar, não querem fazer outra coisa. Era complicado finalizar a aula, por que não queriam parar de trabalhar. Curiosamente para realizar esta casinha usaram como suporte objetos circulares: tampas de plástico e disco de vinil. Há uma frase do filósofo Gaston Bachelard que fala da profundidade da imagem da casa para a imaginação humana: “A casa é uma das maiores forças de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem. Nessa integração o princípio de ligação é o devaneio.” Talvez seja esta a força de integração poderosa para a personalidade que as crianças vivenciem nas brincadeiras e construções de casinhas. E certamente elas têm na imaginação a partir dos materiais o seu mote de ação. Para quem se interessar e quiser aprofundar o assunto pode ler meu trabalho sobre a atividade de construção com crianças em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-14042009-190858/publico/ferreirapaulonin.pdf

Quarto dos pais...

Quarto do filho...

Quarto da filha...

Cozinha...

Sala com TV...

E o jardim.

Máquinas para desenhar e pintar


Num processo de pesquisa no ateliê feito por uma turma de 4ºano, desenvolvido a partir da idéia de construir objetos que tivessem algum movimento, partes móveis ou articuladas, alguém trouxe a idéia de fazer uma máquina de desenhar. Outras crianças embarcaram no projeto e realizaram uma série de máquinas de desenhar e pintar utilizando basicamente sucata de madeira, mas também latas, CDs etc. Infelizmente não fotografei as imagens que produziram com estas máquinas, mas funcionaram como brinquedos de desenho.