sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Espaço e materiais 1: ferramentas

Herbert Read em A educação pela arte diz que "a escola, em sua estrutura e aparência, deveria ser um agente ainda que inconsciente em sua aplicação, da educação estética". Talvez ele estivesse querendo dizer com isso que a organização e a apresentação do espaço influenciam de alguma forma na qualidade do que o estudante produz, do que ele expressa artisticamente, na medida em que esta organização permite a liberdade de movimento, a autonomia da ação criativa que é a autonomia do pensar criativo.
Rudolf Arnhein na obra Intuição e intelecto na arte, bem lembrado pelo Cláudio Barros, diz que "os materiais a serem utilizados devem possuir ordem inerente e permitir a criação de tal ordem a um nível de compreenção acessível à criança" pois "as crianças não podem adquirir o domínio daquilo que não compreendem, e quando são incapazes de compreender, só lhes resta fecharem-se em si mesmas."
Desde que me iniciei na arte-educação este aspecto me foi sublinhado pelas pessoas com quem eu trabalhava, coordenadores e professores colegas. No entanto eu descobri pela minha própria experiência no trabalho artístico e pela observação das crianças e jovens atuando no ateliê, que o espaço de criação é muitas vezes caótico e desorganizado, ou (desculpem a repetição) com uma "organização orgânica", ou seja caótica na aparência, mas funcional para quem cria. Compreendi que os espaços coletivos, estéticamente organizados e classificados, eram um poderoso convite à criação, mas que ao lado deles deveria haver também um espaço para a "organização orgânica", para um eventual caos individual. O caos, no entanto, dentro de uma estrutura organizada e clara para a criança.
Apenas como ilustração cito a artista e educadora dinamarquesa Anna Marie Holm que, no seu livro Fazer e pensar arte, radicaliza este caos criativo do ateliê de maneira bem interessante.
Nesta série "Espaços e Materiais" vou mostrar como ao longo dos anos tentei oferecer uma resposta a estas questões, começando por mostrar os armários e quadros de ferramentas das oficinas de construção que ministrei durante muitos anos em diversas escolas, públicas e privadas. Também nesta série vou mostrar como o espaço pode ser informativo e favorecer à reflexão sobre o próprio processo de criação, principalmente para as crianças pequenas.
A primeira foto é da "oficina itinerante", projeto que desenvolvi na periferia de Santo André na década de 1990, uma oficina que se deslocava entre diversos locais de encontro com crianças e jovens de comunidades carentes. As outras duas fotos são de espaços de trabalho em escolas.


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